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Como lidar com a ansiedade diante de momentos desafiadores?

Publicado 16/07/2020 às 09:26
Foto: Monique Zell Maximovitz

Foto: Monique Zell Maximovitz

*Por Cristina Fernandes Confortin, psicóloga com ênfase em ansiedade feminina

Pensamento focado em eventos futuros, dificuldade de concentração e irritabilidade frequente têm sido as principais queixas das pessoas diante do cenário atual envolvendo a pandemia da Covid-19. Estudos recentes têm apontado índices crescentes de transtornos psicológicos e a probabilidade de que aumentem futuramente, isso por conta do excesso de sentimentos negativos que têm acometido as pessoas. Entre eles, ansiedade, tristeza, estresse e esgotamento emocional.

O isolamento social e a incerteza sobre quando a pandemia terminará vêm despertando diversos sentimentos disfuncionais, principalmente o medo e o pânico diante da possibilidade de ser acometido pelo vírus. Muitas pessoas estão adoecendo devido a pensamentos negativos – como “se eu for contaminado, corro um risco sério de vir à óbito” – mesmo estando fisicamente bem e não apresentando comorbidades que o enquadrem no grupo de risco de contágio.

Há aqueles que se encontram extremamente preocupados por não terem a certeza de quando será possível retornar à rotina habitual e ao contato direto com os demais. Esta característica é uma clássica do ansioso, pois sente a necessidade de ter tudo sob seu controle. E outros sintomas bastante frequentes são taquicardia, falta de ar, dores musculares, desconforto estomacal, mãos trêmulas e geladas, medo de que algo ruim possa acontecer, insônia, medo paralisante e pensamento focado somente no que virá no futuro.

A ansiedade compõe as emoções humanas e quando se encontra equilibrada tem a função de proteger e preparar o indivíduo para o desconhecido ou desafiá-lo para que consiga apresentar seu melhor desempenho ou adaptação à situação.

Os transtornos de ansiedade podem se desenvolver a partir de influências externas: situações difíceis, estressoras ou incertas e vivências traumáticas, como essas, decorrentes da pandemia. Tudo isso pode contribuir para o surgimento e a instalação da patologia, acarretando inúmeros prejuízos emocionais. Entre eles, a falta de energia, cansaço excessivo, humor depressivo, crises de ansiedade frequentes e baixa autoestima.

De modo geral, a ansiedade patológica acaba impossibilitando as pessoas de realizarem atividades ou tarefas por medo de que o pior possa acontecer. Para esses casos é necessário acompanhamento psicológico e tratamento psiquiátrico (medicamentoso).

Existem algumas estratégias que podem auxiliar as pessoas a viverem esse momento de incertezas de uma maneira mais leve e resiliente, focando no que é possível controlar e no que pode ser feito para promover o bem-estar. A prática da atividade física têm sido importante aliada na redução da ansiedade diária, pois auxilia a focar, se concentrar no exercício, além de aumentar a produção de endorfina e serotonina, neurotransmissores relacionados às sensações de bem-estar e que auxiliam na redução do estresse e da ansiedade.

A leitura também apresenta importante contribuição, principalmente na desaceleração de pensamentos ansiosos e negativos, estimulando a concentração no presente e a criatividade, em função das informações obtidas a partir do texto.

O principal gatilho que desperta e ativa os sintomas físicos e cognitivos da ansiedade se encontra nos pensamentos das pessoas. Ou seja, nas interpretações que fazem das situações ou de quem está diante delas. Identificar os pensamentos ansiosos nem sempre é algo simples, justamente pelo fato de não se atentarem ao que está passando em sua mente no momento de uma crise e sim buscarem soluções imediatas para eliminar os sintomas.

Uma das estratégias mais eficientes que utilizo com meus pacientes, por meio da terapia cognitivo comportamental, é identificar os pensamentos e registrá-los no papel. Logo após, solicito que ele se questione: “Quais são as evidências de que meu pensamento é real ou irá acontecer?” e “Quais são as evidências de que meu pensamento não é real e não irá acontecer?”. Essa intervenção costuma promover uma visão mais real e clara da situação, o que permite a compreensão de fato da probabilidade de seus pensamentos ansiosos acontecerem.

Uma reflexão importante e necessária acerca da pandemia é o fato de que ninguém tem o controle sobre tudo o que acontece, tampouco sobre o futuro. Por isso, é fundamental que as pessoas busquem o autoconhecimento, para compreenderem seu funcionamento emocional e para que desenvolvam a capacidade de resiliência. Isto é, reagirem da melhor forma que conseguirem diante das adversidades, entendendo que haverá dias ansiosos e estressores e que estes são importantes para que tenhamos mais tolerância sobre o que não temos controle.

Costumo dizer a quem me procura que não existe uma fórmula mágica ou uma receita de bolo que você aprende, aplica e percebe imediatamente resultados satisfatórios, pois toda a mudança duradoura requer um processo. Embora os sintomas da ansiedade sejam similares, as causas que a despertam são diferentes justamente pela singularidade de cada ser humano, com suas  vivências únicas e sentimentos distintos frente às mesmas situações.

É necessário compreender que o comportamento ansioso provavelmente não teve início na semana passada. É provável que esteja sendo repetido há algum tempo e por isso demandará tempo, paciência e resiliência para que seja adaptado de maneira funcional e para que  os sintomas da ansiedade sejam estabilizados.

 

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