O Sindicato Unificado dos Trabalhadores da Agricultura Familiar (Sultraf) se prepara para um momento decisivo: no próximo dia 10 de julho, será realizado o Congresso da categoria e a posse da nova direção, eleita com mais de 99% de aprovação. O evento ocorre na comunidade da Linha Batistela, em Erechim, com expectativa de grande participação de agricultores da região.
O coordenador geral da entidade, Alcemir Banhara, esteve nos estúdios da Rádio Difusão AM 650 para detalhar a programação e os desafios do novo mandato, que terá duração de três anos. Segundo ele, o Congresso será o momento de consolidar as diretrizes construídas a partir de 20 seminários municipais e dois regionais, onde foram ouvidas lideranças, agricultores e entidades parceiras.
Produção cara, clima instável e preço baixo: os principais problemas
Com base em pesquisas internas e dados dos censos demográfico e agropecuário, a entidade identificou os três principais desafios enfrentados pela agricultura familiar:
- Alto custo de produção
- Instabilidade climática
- Baixo preço dos produtos comercializados
A maioria dos agricultores da região cultiva grãos, adquire todos os insumos de forma externa e comercializa a produção in natura, muitas vezes para as mesmas indústrias que fornecem os insumos. Segundo Banhara, esse modelo se tornou insustentável, gerando endividamento e baixa rentabilidade.
Novo modelo de produção busca mais diversidade e menos veneno
Diante desse cenário, o Sultraf defende a construção de um novo modelo de produção agrícola.
“A agricultura familiar virou monocultura. Precisamos retomar a diversidade, com menos veneno e mais valor agregado”, afirma Banhara.
A proposta é transitar para práticas mais sustentáveis, como o fortalecimento de agroindústrias de pequeno porte e projetos de beneficiamento de alimentos, permitindo que o agricultor agregue valor antes da venda.
Um dos destaques é o projeto piloto em andamento nas comunidades de Áurea, Erval Grande e São Valentim, com o uso da metodologia Sistema de Plantio Direto de Hortaliças (SPDH). Essa técnica — já consolidada em Santa Catarina — promove rotação de culturas, cobertura de solo e redução no uso de insumos, podendo reduzir os custos de produção em até 50%.
“Esse sistema respeita o solo e as plantas, reduz o uso de veneno, racionaliza a adubação e fortalece o agricultor”, explica o coordenador.
Agroindústria esbarra na legislação
Outro obstáculo apontado pelo Sultraf é a burocracia que dificulta a comercialização de produtos da agroindústria familiar, especialmente entre municípios.
“Hoje, um produtor pode vender queijo no seu município, mas se tentar vender no município vizinho, é criminalizado. Isso precisa mudar”, defende Banhara.
A expectativa do Sultraf é que o Congresso marque o início de uma nova etapa para a agricultura familiar, com políticas públicas mais inclusivas e eficazes, que priorizem a sustentabilidade, a geração de renda digna e uma produção saudável para todos.