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Entenda por que está chovendo tanto no Rio Grande do Sul

Publicado 19/06/2025 às 08:46


Por que está chovendo tanto no Rio Grande do Sul? Mesmo sem El Niño, o Estado vem enfrentando acumulados excessivos e localmente extremos de precipitação desde o último sábado (14) com a piora da situação principalmente nesta semana.

Nessa quarta (18), os acumulados de chuva aumentaram muito no Vale do Rio Pardo e na Grande Porto Alegre, agravando a situação. O elevado volume de precipitação provocou a elevação do nível de rios, bloqueios em estradas estaduais e federais, além de danos em áreas urbanas e rurais. Segundo a Defesa Civil estadual, mais de 50 municípios já registraram ocorrências relacionadas. Os problemas vão de alagamentos e deslizamentos de terra até inundações e quedas de barreiras.

Mais de 1,3 mil pessoas estão fora de casa devido à chuvarada. Pelo menos mil pessoas estão em abrigos, enquanto outras 1.336 foram obrigadas a deixar suas residências e estão alojadas em casas de parentes ou amigos. Os números ainda podem crescer, conforme novas atualizações. A situação mais grave é registrada em regiões com rios que tiveram forte elevação, com risco de transbordamento e novas inundações, em especial no município de Jaguari que tem mais de mil pessoas fora de casa.

Veja quais fatores estão contribuindo para este evento de chuva excessiva a extrema que atinge o Rio Grande do Sul.

* Bloqueio atmosférico

Um bloqueio atmosférico é uma configuração persistente da circulação atmosférica que impede o avanço normal das frentes frias e massas de ar. Ele ocorre quando sistemas de alta pressão (anticiclônicos) ficam estacionados por vários dias ou até semanas sobre uma determinada região. Essa barreira atmosférica dificulta a movimentação dos sistemas meteorológicos, como ciclones e frentes, alterando o padrão típico do tempo.

Durante um bloqueio, áreas sob a influência direta do sistema de alta pressão costumam ter tempo seco, quente e com pouca nebulosidade, especialmente no outono e inverno. Já nas bordas do bloqueio, podem ocorrer chuvas persistentes ou temperaturas abaixo da média, dependendo da época do ano.

No momento, atua um bloqueio atmosférico associado a um circulação anticiclônica na altura do Sudeste do Brasil em altitude. Por isso, o tempo está firme e seco com elevação da temperatura no Sudeste e no Centro-Oeste do Brasil enquanto no Rio Grande do Sul chove muito com uma frente bloqueada.

* Frente semi-estacionária

Com o bloqueio atmosférico, frentes frias não conseguem avançar pelo Sul do Brasil. Como efeito, Estados como Santa Catarina e o Paraná não estão sofrendo os efeitos da instabilidade com predomínio do tempo firme na maioria das cidades dos dois estados. É o que explica também porque mais ao Norte do Rio Grande do Sul, perto da divisa com Santa Catarina, tem chovido muito menos.

A frente fria que chegou ao Rio Grande do Sul não consegue furar o bloqueio e passou à condição de semi-estacionária sobre o Rio Grande do Sul, despejando chuva por dias seguidos quase na mesma área e com muito altos volumes.

* Jato de baixos níveis

Desde ontem uma corrente de jato em baixos níveis da atmosfera atua no Rio Grande do Sul e transporta ar quente para o estado, alimentando a formação de nuvens muito carregadas com temporais e chuva forte.

Em termos leigos, a corrente de jato em baixos níveis é uma corrente de ar estreita encontrada na baixa atmosfera, normalmente em torno do nível de pressão de 850 hPa (ou cerca de 1500 metros de altitude), atuando entre um e dois quilômetros de altura. Ou seja, é um corredor de vento nas camadas baixas da atmosfera que se origina na Bolívia e traz ar quente para o estado.

* Gradiente de temperatura

Uma vez que há um bloqueio atmosférico e o Rio Grande do Sul se encontra na borda, o Estado encontra-se neste momento entre duas massas de ar com características distintas: uma quente ao Norte e outra fria ao Sul.

Há, assim, uma condição de diferença de temperatura (gradiente térmico) que estimula a instabilidade sobre o território gaúcho, associado à atuação da frente em condição semi-estacionária. O gradiente térmico estava presente no evento de chuva extrema que levou à enchente de maio de 2024, mas era muito maior que hoje. À época, uma forte onda de calor assolava o Centro do Brasil enquanto na Argentina o frio era muito intenso com marcas historicamente baixas na Patagônia. (Com informações da MetSul Meteorologia)

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