Locutor João Carlos Nicolai apresenta sua coleção de eletrodomésticos antigos

Publicado 27/08/2019 às 05:36

 

Várias peças da coleção de João são batedeiras

Várias peças da coleção de João são batedeiras. A que está nas suas mãos é uma Walita, fabricada em meados dos anos 1950, e que pesa cerca de 5 quilos

*Por Dóris Fialcoff, jornalista e editora do site da Rádio Difusão

Existem vários sinônimos para o verbo “colecionar”. Compilar, acumular, ajuntar e por aí vai. Mas, para o substantivo “colecionador’, eu, sinceramente, ainda não encontrei outro melhor do que “apaixonado”. Dia desses, conversando com o João Carlos Nicolai, comunicador e querido colega na Rádio Difusão, tive mais uma oportunidade de confirmar que estou certa.

O João é daquelas pessoas multifacetadas, que, literalmente, materializam o sentido de vários adjetivos. Só para resumir essa bela soma, computem aí “curioso”, “inquieto”, talentoso”, “habilidoso”, “criativo”, “organizado”, “meticuloso”, “generoso” e “persistente”.

E naquele dia, no nosso papo, descobri que ele também é apaixonado. Ou seja, é um colecionador. Eu já achei isso muito bacana, mas fiquei ainda mais interessada quando soube que a coleção é de eletrodomésticos antigos.

Isso mesmo. Aqueles aparelhos que, em geral, a gente só quer para dar uma boa facilitada na vida, são carinhosa e meticulosamente pesquisados, buscados, limpos, consertados e protegidos pelo João. E ele diz, com o maior orgulho, que eventualmente os usa em casa.

Além de equipamentos, manuais de instrução e anúncios publicitários

A receita dos bolinhos o colecionador tirou de um anúncio, publicado em ????, sobre a batedeira

A receita dos bolinhos o colecionador tirou do anúncio publicado na revista O Cruzeiro, no final dos anos 1950

A coleção tem enceradeiras, batedeiras, liquidificadores, aspiradores de pó e misturadores de massa. Mas não para por aí: o João tem várias pastas com anúncios publicitários dos equipamentos e outras ainda com os manuais de instruções. Aliás, como os manuais de hoje em dia estão sem graça. Os que vi na coleção são infinitamente mais didáticos, simpáticos e bonitos do que todos os que eu tenho.

Bem, a paixão com que os colecionadores falam sobre as suas coleções emociona qualquer interlocutor. E arrisco a dizer que em não raros casos pode sensibilizar ainda mais pessoas que não têm esse hábito. Depois vocês me contam o que pensam sobre isso? Vou adorar saber.

Coleção contextualizada e com pitadas de curiosidades

A enceradeira Anilza é um dos itens da coleção do João

A enceradeira Anilza é um dos itens da coleção do João

O meu papo com o João foi uma verdadeira aula, pois ele contextualiza histórica e economicamente cada item da sua coleção. Além, claro, de contar curiosidades.

Fiquei sabendo, por exemplo, que alguns aparelhos de eletrodomésticos receberam apelidos. É o caso de um modelo de enceradeira Arno, batizada de Anilza pelos colecionadores da época. Foi uma homenagem à atriz Anilza Leoni, que, em uma cena do filme Com Água na Boca, em 1956, contracena e faz peripécias com vários eletrodomésticos, entre eles essa enceradeira.

Mas agora vou deixar o próprio João falar e nos encantar com a sua coleção. Na imagem a seguir, uma parte da coleção de enceradeiras. E, logo após, acompanhe a nossa prosa.

Para proteger as enceradeiras, João costurou capas , onde bordou os logotipos das marcas

Para proteger as enceradeiras, João costurou capas, onde bordou os logotipos das marcas

Você sempre gostou de colecionar?
Na verdade, eu nem pensava em ter uma coleção de eletrodomésticos. Desde de criança sempre fui muito curioso e buscava aprender e saber sobre tudo. Adorava ver a minha mãe e o meu pai usando aparelhos eletrodomésticos em casa. O barulho e o cheiro do motor deles me fazia querer entender como funcionavam.

Já teve alguma outra coleção antes dos eletros?
Que eu me lembre, nada. Talvez álbum de figurinhas, mas acho que não podemos considerar coleção.

Em que momento e por que você decidiu focar na coleção de eletrodomésticos antigos?
Nunca tive esse interesse em coleção, as coisas foram surgindo, acontecendo. Como eu já curtia, comprei a primeira enceradeira com espalhador de cera elétrico da Arno em 2013, e aí fui tomando gosto. Depois vieram outras, vieram liquidificadores, batedeiras, aspiradores de pó, bem como as propagandas dos aparelhos e os seus respectivos manuais. Eu gosto muito de encerar um chão (risos). Dizem que sou doido por fazer isso ainda, mas acho que a casa fica tão mais bonita, mais aconchegante e com cheiro de casa de mãe e avó, né? O meu apartamento é todo em parquet, aí eu me divirto.

Atualmente, quantos eletrodomésticos têm a sua coleção?
Acredito que chega perto de 100 peças.

Que peças são, ainda, o seu sonho de consumo para a coleção?
Eu ainda desejo ter uma enceradeira que saiu com algumas marcas diferentes (Côndor, Kissonho) e o misturador de massa Walita Turmix com tigela de vidro. Quem sabe ainda apareçam. Só pensar com força que vem!

Os aparelhos que você coleciona são de que marcas? Alguma delas não existe mais?
Bom, são várias marcas: Walita, Arno, General Electric, Citylux, Electrolux, Eletrobril, Kenmore, Electrostar, Hamilton Beach e Sunbeam. As marcas Citylux, Eletrobril não existem mais, já as demais seguem no mercado e algumas ainda fabricam eletrodomésticos, outras fabricam turbinas de avião, e assim vai. O grande êxito dos eletrodomésticos aconteceu no pós-guerra (1946), quando a história de várias marcas começou. A título de curiosidade, a Walita e a Arno foram fundadas em São Paulo no final dos anos 1940. A General Electric surgiu nos Estados Unidos, em 1892, mas está presente no Brasil desde 1919. A Electrolux, fundada em 1919, na Suécia, veio para cá em 1926, e por ai vai. Se formos contar tudo vai dar um livro (risos). Para ser um colecionador, ser chamado assim, você precisa conhecer a história, ir a fundo em suas pesquisas sobre o objeto, manter a originalidade da peça dentro do possível e, claro, ter amor e cuidado.

O que a coleção representa para você e o que ela trouxe para sua vida?
Representa diversão, alegria, satisfação de poder usar tantos aparelhos diferentes, de marcas diversas e também poder cuidar daquilo que já foi de alguém, que já esteve presente na vida e na história de uma pessoa. Considero como uma válvula de escape, uma terapia, apesar de ocupar espaço e, em alguns casos, ser oneroso. Pode parecer estranho colecionar eletrodomésticos, mas me encanta a transformação da energia elétrica em força mecânica, a mistura das cores dos aparelhos com a história do período em que foram lançados, as tendências que eles seguiam e por estarem na vida das pessoas há tanto tempo.

Qual a média de tempo você dedica à coleção (pesquisa por peças, fóruns, contatos com colecionadores, estudos, manutenção, organização etc)?
Estou sempre olhando sites, buscando aprender coisas novas sobre os equipamentos e as suas histórias. Não faço isso todos os dias agora, pois estou com problemas na coluna. As vezes vou em busca de peças que faltam para completar ou para dar manutenção. Tenho amigos que são colecionadores e perto de alguns eu tenho muito poucas peças, mas me considero um colecionador Classe A. Além dos aparelhos, tenho os manuais de instrução e as propagandas antigas dos aparelhos. Elas saiam nas revistas O Cruzeiro, Manchete, Realidade, Fatos e Fotos, entre outras. Além de colecionar, você acaba lendo matérias interessantes da época e percebe que pouca coisa mudou de anos atrás para hoje.

Resumindo, colecionar é…
Ter uma coleção, seja ela qual for, traz muitos benefícios. Ajuda no estresse, no senso de organização, na autoestima, e faz com que a gente valorize o que tem.

Este multifuncional é um dos orgulhos do colecionador. O equipamento é furadeira, enceradeira e lixadeira

Este multifuncional norte-americano é um dos orgulhos do colecionador. É um equipamento que lava, encera, fura e lixa

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