Na manhã desta sexta-feira, a Rádio Difusão recebeu o jornalista e escritor Salus Loch, ex-secretário de Comunicação do governo Paulo Polis e hoje coordenador da Casa da Memória da Unimed Rio Grande do Sul. Com um trabalho consolidado na cobertura da memória do Holocausto, Salus compartilhou suas experiências com visitas a campos de concentração na Europa, entrevistas com sobreviventes e a responsabilidade de manter viva essa parte crucial da história da humanidade.
Do rádio local à memória mundial
Salus começou sua carreira ainda jovem, nos tempos da coluna “Olhos de Águia” no extinto jornal A Voz da Serra. Desde então, construiu uma trajetória marcada pelo jornalismo comprometido com a verdade e com a memória. Desde 2023, coordena o espaço cultural da Unimed no estado, promovendo exposições, lançamentos de livros e iniciativas de valorização do saber.
O início da jornada pelos campos de extermínio
O interesse pelo Holocausto começou em 2015, quando foi convidado pela Revista Superinteressante a passar seis meses na Europa produzindo reportagens, uma delas sobre Auschwitz. Com o apoio do então prefeito Paulo Polis, Salus embarcou em sua primeira visita ao campo de concentração e extermínio nazista.
“Foi lá que conheci a senhora Lídia Maksymowicz, que sobreviveu ao campo e até hoje, todas as segundas-feiras, dá palestras para crianças em Cracóvia. Depois disso, entrevistei Gita, outra sobrevivente que vivia em Florianópolis. Dessa entrevista nasceu o livro A Tenda Branca.”
Mais de 30 campos visitados e mais de 20 sobreviventes entrevistados
Desde então, Salus já visitou mais de 30 campos de concentração e centros de memória em países como Polônia, Alemanha, Itália, Israel e Brasil. Já entrevistou mais de 20 sobreviventes do Holocausto e, voluntariamente, presta assessoria de imprensa para o Museu do Holocausto de Curitiba.
Em 2020 e agora em 2025, ele esteve em Auschwitz como único jornalista brasileiro a cobrir os eventos de 75 e 80 anos da liberação do campo. “A diferença é brutal: em 2020 havia mais de 200 sobreviventes presentes. Agora, apenas 56. Daqui a 10 anos talvez não haja mais nenhum. É por isso que o trabalho de manter a memória viva se torna cada vez mais urgente.”
A série “Liberação” e o novo e-book
O conteúdo dessas últimas viagens originou a série “Liberação”, que inclui textos, vídeos e agora um e-book, lançado em abril na Casa da Memória Unimed, em Porto Alegre, com a presença de representantes da comunidade judaica. O e-book será lançado também em Erechim durante a Feira do Livro, com palestra gratuita nesta sexta-feira, às 19h, na Praça Jaime Lago.
“Na palestra, vou abordar como os nazistas chegaram ao poder, o contexto político da Alemanha pré-guerra, e como o silêncio da sociedade permitiu o avanço do horror. É essencial entender que Hitler não chegou do nada ao poder em 1933. Ele foi eleito num contexto de crise econômica e polarização extrema.”
Antissemitismo crescente e o papel da imprensa
Salus destacou ainda dados alarmantes: entre 2022 e 2024, o antissemitismo no Brasil cresceu 350%, segundo dados da Conib. “Os sobreviventes dizem: o silêncio permitiu que Auschwitz acontecesse. Negar o Holocausto ou minimizá-lo é abrir caminho para que isso se repita.”
Jornalismo, juventude e propósito
Para os jovens que pensam em seguir no jornalismo, Salus dá um conselho direto: “Se tu gosta do que faz e faz bem feito, tu vai ter mercado. A academia é importante, mas hoje há muitas plataformas onde tu pode produzir conteúdo com propósito e alcançar o público.”
Compromisso com a verdade
Salus encerra sua fala lembrando que negar o Holocausto não é ignorância ingênua. “Muitos que fazem isso nutrem os mesmos sentimentos de superioridade racial que motivaram os nazistas. Por isso, manter viva a memória é uma forma de impedir que a história se repita.”